HOME - POLICIAL - ESPORTES - NOSSA CIDADE - EVENTOS - CLASSIFICADOS - GERAL

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Em protesto, policiais estouram cassino sem autorização

 
Policiais civis do Paraná estouraram, na madrugada desta sexta-feira, uma mansão em Curitiba usada como casa de jogos de azar e prostituição. Houve três pessoas detidas e 40 máquinas caça-níqueis apreendidas, além de recolhidas máquinas de cartão de crédito e documentos, como alvará falso de funcionamento e lista de clientes e mulheres que trabalhariam como prostitutas. A operação estourou uma crise na Polícia Civil, pois foi feita por deliberação dos próprios policiais, sem ordem nem conhecimento do comando da corporação ou de, ao menos, um delegado.

 
Foram cerca de 20 policiais civis que, encapuzados, invadiram a casa por volta das 23h30 de ontem, quando cerca de 50 pessoas estavam no local, e fizeram as prisões e apreensões. A casa era considerada um estabelecimento de luxo, frequentada por políticos e empresários da cidade, segundo os policiais, que não se identificaram. A invasão à revelia do comando, segundo eles, foi parte da "Operação Padrão" dos investigadores de polícia, "visando mostrar a excelência de nosso trabalho e pedir melhores condições e salários". Segundo os policiais envolvidos na operação, o objetivo é atingir pontos que até então eram "blindados" tanto pela polícia quanto pelo governo do Estado.

Após o flagrante, os policiais esperaram, durante toda a madrugada, por um delegado no local, mas nenhum apareceu. Assim, no início da manhã, eles contrataram, por conta própria, um frete para remover o material apreendido. Só por volta das 8h30 que dois delegados chegaram ao local. "Estamos tomando conhecimento apenas agora. Vamos verificar de onde partiu essa operação. Não veio caminhão da polícia aqui porque não havia registro dessa operação. Uma ação dessas tem que ser planejada", disse o delegado Sebastião Ramos, da Divisão Policial da capital.
 
Delegado-geral: 'não vamos aceitar isso'
O delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinicius Michelotto, reagiu energicamente contra a operação. "A ação foi feita por eles, sem conhecimento de suas chefias. Não vamos aceitar isso. A Polícia Civil tem uma hierarquia e tem que ser respeitada. Quem manda e quem pode determinar operações como essas são os delegados. Já estamos tomando providência para instalar processos administrativos", disse.

Em nota oficial, o delegado-geral comparou a operação à ação de uma milícia. "Alguns policiais, em forma de milícia e encapuzados, agiram sem que estivessem respaldados da coordenação de um delegado de polícia", disse. "A Polícia Civil reprova veementemente este tipo de ação e refuta qualquer operação que não tenha a segurança pública da sociedade paranaense como o seu principal foco. A instituição entende que a ação realizada nesta madrugada não representa a opinião dos cerca de quatro mil servidores que hoje compõem o quadro de policiais civis do Paraná", afirmou, para concluir rechaçando a possibilidade de "blindagem".

O departamento informou que frequentemente tem recebido e apurado denúncias referente a jogo ilegal ou outras atividades ilícitas, fato ilustrado pelos mais de mil máquinas caça-níqueis apreendidas em 2011. A Polícia Civil ressaltou que as negociações de reajuste salarial iniciadas entre a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) e os sindicatos legalmente reconhecidos como representantes das classes policiais estão bem encaminhadas, e por isso rechaçou qualquer informação de que haja uma postura de "Operação Padrão" por parte dos policiais que compõem a base da instituição.

Sindicato apoia iniciativa
O Sindicato dos Investigadores de Polícia do Paraná (Sipol) apoiou a ação. Para o presidente da entidade, investigador Roberto Ramires, "a operação foi um sucesso, do jeito que deve ser a ação do policial no cumprimento de seu dever. Ao receber a informação de que um crime está acontecendo, tem que agir na hora", disse, não vendo erro no fato de ter acontecido sem a orientação de um delegado. "Não precisa, é caso flagrante. O policial está na rua, recebe a informação, tem que agir. Depois, espera o delegado. Foi o que eles fizeram. Infelizmente, demorou quase 10 horas para aparecer um delegado", disse, sem entrar na questão da "Operação Padrão".

Já o tesoureiro do sindicato, Ezequiel Ventura, fez questão de frisar que a operação foi sim uma resposta ao departamento. "Não só pela indisposição em negociar o subsídio, como também pela recente remoção de dois colegas nosso que, como único erro, fizeram uma apreensão que contrariou alguns interesses", disse. Ezequias lamentou a nota do delegado-geral e disse que o sindicato procurará a Justiça para evitar retaliações. O investigador também questionou o desinteresse do departamento pela operação. "A forma como agiram permite a insinuação de que estavam querendo proteger alguém", provocou.